Bolsonaro não disse em vídeo que teria se alistado no exército nazista durante a Segunda Guerra Mundial
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- Publicado em 23 de janeiro de 2020 às 15:58
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- Por AFP Brasil
“Bolsonaro afirmou com todas as letras que mesmo sabendo das atrocidades praticadas pelo nazismo, se alistaria no exército de Hitler”, diz a legenda que acompanha o vídeo em uma publicação compartilhada no Facebook desde 19 de janeiro deste ano.
A gravação - que mostra os bastidores de um episódio de 2012 do programa de TV CQC, no qual o então deputado responde a perguntas utilizando um detector de mentiras - aparece em postagens semelhantes (1, 2, 3) na rede social, somando mais de 2 mil compartilhamentos.
Entre os questionamentos, uma pessoa que está fora do enquadramento da câmera pergunta se Bolsonaro teria se alistado no exército de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial, ao que ele parece responder “sem problema nenhum”.
No entanto, em um vídeo mais longo da mesma entrevista publicado no YouTube, no qual o áudio da gravação está mais claro que o das publicações virais, é possível perceber que a fala de Bolsonaro foi uma resposta a outra pergunta.
Logo após a pessoa que não é filmada questionar se Bolsonaro teria se alistado no exército nazista, o entrevistador Rafael Cortez, que aparece no vídeo, confirma em voz baixa se pode refazer a pergunta para a câmera, ao que Bolsonaro responde: “Pode, sem problema nenhum. Eu tenho uma resposta muito boa para te dar inclusive”.
A confirmação de Rafael Cortez pode ser ouvida no vídeo viralizado mas, devido à menor qualidade da gravação, é possível que a fala passe despercebida pelo espectador.
Rafael Cortez faz a pergunta sobre o alistamento novamente e só então Bolsonaro responde afirmando que seu bisavô foi “soldado de Hitler”. O vídeo compartilhado nas redes sociais para nesse momento e corta para um outro trecho da entrevista, em que o então deputado fala sobre o sistema de cotas.
Na versão mais longa publicada no YouTube, Bolsonaro continua dizendo: “A pergunta não cabe porque você não tinha o direito de se alistar ou não, você era alistado automaticamente”.
Quando o entrevistador pergunta o que ele faria se o alistamento fosse facultativo, Bolsonaro responde: “Na verdade, ninguém quer ir para a guerra, nem nós militares queremos ir pra guerra. Por isso que nós queremos melhores meios para você trabalhar para evitar uma guerra. O militar bom, o Exército bom não faz guerra, evita guerra”.
Apesar de não ter dito que teria se alistado em seu exército, Bolsonaro elogia Hitler durante a entrevista. “Profissionalmente ele foi um grande estrategista [...] O genocídio é outra história, tá ok. Eu não concordo, logicamente, com o que ele fez lá”, disse.
Este vídeo já circulou com alegações semelhantes em outubro de 2018, mas viralizou novamente depois que o secretário de Cultura do governo, Roberto Alvim, foi exonerado por parafrasear um discurso nazista no último dia 17 de janeiro.
Em resumo, não é verdade que o atual presidente Jair Bolsonaro afirmou em entrevista de 2012 que teria se alistado no exército de Hitler, caso fosse alemão, durante a Segunda Guerra Mundial. A fala de Bolsonaro foi tirada de contexto e o vídeo cortado para remover o trecho em que o então deputado diz que “a pergunta não cabe” e que “ninguém quer ir para a guerra”.
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