Babar ao dormir não comprova que a respiração está sendo feita corretamente
- Este artigo tem mais de um ano
- Publicado em 13 de outubro de 2021 às 21:13
- 4 minutos de leitura
- Por Manuela SILVA, AFP Uruguai, AFP Brasil
Copyright © AFP 2017-2025. Qualquer uso comercial deste conteúdo requer uma assinatura. Clique aqui para saber mais.
“Você sabia? Quando você descansa corretamente, seu corpo relaxa completamente e isso faz sua boca abrir e acabar babando. Além disso, diz-se que ao botar saliva pela boca ao descansar, significa que a pessoa está respirando corretamente e não tem apneia do sono ou um distúrbio que interrompe a respiração”, indica o texto compartilhado nas postagens, que somam mais de 150 mil interações no Facebook (1, 2, 3), no Instagram (1, 2, 3) e no Twitter (1, 2).
Estas ainda continuam: “‘O adulto desliga-se completamente, suas funções cerebrais para fazer uma pausa e reparação; então começa a sair a saliva para fora e dando-se o famoso sono muito profundo’”.
Alegação semelhante foi igualmente compartilhada em publicações em espanhol (1, 2).
“A respiração normal é a respiração nasal”, afirmou à AFP Marisa Pedemonte, que é mestre em Sono e Neurociência Experimental e Clínica e também diretora uruguaia do CEVIPO, um centro de pós-graduação de Medicina do Sono virtual e presencial no Uruguai, na Colômbia e no Peru.
“O nariz é o órgão que temos para respirar, para o ar entrar, purificar partículas, e isso não muda nem de dia nem de noite”, sustentou.
De qualquer forma, “não é normal” nem “fisiológico” que a saliva seja excessiva e persistente ao dormir, assim como “não é correto” babar ao dormir, pois, para isso, deve-se ficar com a boca aberta quando, na verdade, a pessoa deveria estar respirando pelo nariz.
Uma busca no Google sobre a salivação durante o sono mostrou como resultado um artigo publicado pelo centro médico acadêmico norte-americano PennMedicine que aborda as possíveis causas de babar durante o sono: “O excesso de saliva, também conhecido como hipersalivação ou sialorreia, pode ser o resultado de uma produção excessiva ou diminuição da liberação de saliva”, explica a doutora Paula Barry, autora do artigo, que foi reconhecida pelo menos cinco vezes entre os melhores médicos dos Estados Unidos.
O excesso de saliva “pode causar a baba, o que geralmente não é motivo de preocupação, mas que às vezes pode ser um sinal de um problema de saúde maior”, adverte Barry. Entre esses problemas, menciona alergias e infecções, apneia do sono, efeitos colaterais de medicamentos ou dificuldade de deglutição devido a acidentes vasculares cerebrais ou distúrbios neurológicos.
“Expresso dessa maneira é um erro fisiológico e clínico”, indicou ao ler uma das publicações viralizadas o pneumologista uruguaio José Pedro Arcos, especialista em fisiologia respiratória, após ser consultado pela equipe de checagem da AFP.
“Durante o sono, a secreção salivar diminui consideravelmente, assim como também diminui a frequência da deglutição. [Esse] fato fisiológico pode explicar porque a grande maioria das pessoas não baba durante o sono”, acrescentou.
Quando a baba aparece constantemente, explica o especialista, “nunca pense (...) que é uma resposta ao ‘sono relaxado’ nem à ‘respiração normal’, muito pelo contrário: indica que se deve procurar patologias que a expliquem”.
Um estudo realizado em 2001 pela Universidade de Montreal, pela Universidade de Gotemburgo (Suécia) e pelo Hospital Sagrado Coração de Montreal formulou a hipótese de que embora a produção de saliva diminua “drasticamente” durante o sono e que a maior quantidade seja produzida durante as horas de vigília do dia, quando as pessoas dormem a lubrificação “necessária” é mantida pela saliva para “proteger a integridade dos tecidos e a saúde das estruturas oroesofágicas”.
Quanto à suposição de que, quando o corpo relaxa durante o sono, a boca se abre, a especialista apontou que isso é falso: em nenhum momento a boca deve abrir, assegura, nem mesmo no período do sono de movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês), que é quando há uma perda de energia potencial de um músculo (tônus muscular), “que não é total”.
O sono
Para conseguir um sono de qualidade, Pedemonte recomenda dormir à noite, atravessar os quatro estágios do sono (sono leve nos estágios 1 e 2, e sono profundo nos estágios 3 e 4) e descansar a quantidade de horas adequada para cada pessoa.
O guia do sono publicado no site da Associação Espanhola de Doenças do Sono menciona que o número de horas “a serem descansadas” varia de pessoa para pessoa: “Enquanto algumas precisam dormir entre 5 e 6 horas, outras precisam de 10 ou mais. Entretanto, é normal que um adulto saudável durma, em média, de 6 a 8 horas e meia”. Além disso, a duração do sono também varia “em função da idade, estado de saúde, estado emocional e outros fatores”.