
A imagem não mostra o crânio de um crocodilo pré-histórico, trata-se de uma peça criada para a TV
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- Publicado em 18 de outubro de 2021 às 22:03
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- Por AFP Sri Lanka, AFP Brasil
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“O crânio de um Purussaurus, um dos maiores crocodilos que já viveu”, indica a legenda de algumas publicações compartilhadas no Facebook (1, 2), no Instagram (1, 2) e no Twitter (1).
Outras postagens comparam o crânio visto na fotografia com a espécie Sarcosuchus (1, 2).
Alegações semelhantes foram igualmente compartilhadas em espanhol, inglês e hebraico.

O Purussaurus é um grande crocodilo pré-histórico que viveu na América do Sul durante o Mioceno médio a tarde, entre 15 e sete milhões de anos atrás. Ao longo desse período, eles se estabeleceram em áreas de enormes bacias de drenagem, formando ambientes deltaicos, estuarinos, pantanosos e fluviais.
Estima-se que os adultos dessa espécie medissem 12,5 metros de comprimento e pesassem 8,4 toneladas.
Já o Sarcosuchus, por sua vez, que viveu na África e na América do Sul, chegou a medir até 12,1 metros e a pesar oito toneladas.
Para a televisão
Uma busca reversa pela foto viralizada forneceu como resultado uma imagem semelhante publicada no site de uma empresa britânica chamada Crawley Creatures, que, segundo indica, é especializada em “moldagem, escultura, usinagem, design eletrônico, engenharia e trabalho artístico”.
A fotografia é intitulada “Crânio de Deinosuchus”, em referência a um gigantesco parente extinto de jacarés na América do Norte:

A AFP entrou em contato com o diretor da empresa, Jez Gibson-Harris, para perguntar sobre a imagem viralizada. A isso, ele respondeu que a réplica do “Crânio de Deinosuchus”, como aponta o site, “foi feita pela Crawley Creatures Ltd. antes de 2009 para a série de televisão Prehistoric Park” e que o homem visto na fotografia é um técnico que trabalhava para a empresa.
“Crocodilo moderno”
A imagem de um crânio compartilhada nas redes sociais “não é nem um nem outro”, assegurou o paleontólogo uruguaio Matías Soto, também pesquisador do Programa de Desenvolvimento das Ciências Básicas (Pedeciba), sobre a possibilidade de a peça vista na fotografia ser uma réplica de parte de um Purussaurus, como afirmam as postagens, ou de um Deinosuchus, como indicou a empresa britânica.
O paleontólogo argentino Diego Pol, pesquisador especializado na evolução dos répteis arcossauros (crocodilos e dinossauros), por sua vez, comentou que a peça fotografada “tem o tamanho aproximado, mas não parece ser muito semelhante ao Purussaurus, mas sim baseada em um crocodilo moderno”.
Soto ainda detalhou: “O formato do crânio [da foto viralizada] não tem nada a ver” com o dos crocodilos pré-históricos e nem sequer se assemelha ao de um Sarcosuchus, outro crocodilo da era dos dinossauros.
“Você olha de cima ou de lado e não tem nada a ver com o formato”, pois não há semelhanças com as narinas, partes da área maxilar ou da mandíbula, acrescentou. “Parecem ter feito um crânio meio genérico de crocodilo, mas de tamanho familiar”, concluiu o especialista, referindo-se à grande proporção das medidas.
Martín Ubilla, PhD em Ciências Biológicas, observa algumas nuances. O pesquisador e professor uruguaio informou que, segundo artigos recentes (1, 2), o Purussaurus neivensis, que é o menor dessa espécie, tem as narinas externas “mais parecidas com as como estão na réplica” porque “são menores” em comparação com os outros tipos. O comprimento de seu crânio pode ser inferior a um metro, indicou.
Entretanto, “o crânio do Deinosuchus tem diferenças importantes”. “Com a questão das réplicas, na verdade, tudo pode acontecer”, opinou Ubilla.